Após os fariseus questionarem o comportamento de Jesus ao comer à mesa com publicanos e pecadores, os discípulos de João Batista passam a questionar o comportamento dos discípulos de Jesus. Provavelmente, tanto os fariseus quanto os discípulos de João Batista guardavam uma observância farisaica de jejuar constantemente, algo que os discípulos de Jesus não estavam fazendo. A resposta de Jesus àqueles homens é firme: "Podem, acaso, estar tristes os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles?". Com sua resposta, Cristo mostra que não havia motivo para que seus discípulos estivessem entristecidos, e que não havia necessidade de jejum naquele momento, pois o noivo, Cristo, estava com eles.
Vemos que Jesus compara seus discípulos aos assistentes do noivo, amigos tão íntimos que haviam sido convidados para as núpcias e estavam encarregados de preparar a grande festa! Não havia espaço para tristeza dos discípulos naquele momento, pois o noivo da Igreja, Cristo, estava na terra praticando misericórdia, anunciando o evangelho e trazendo esperança aos perdidos em seus pecados.
O Senhor, porém, alerta que virão dias em que "lhes será tirado o noivo, e nesses dias hão de jejuar"(v 15). Jesus deixa bem claro que haveria sim um momento de tristeza profunda, onde o jejum seria necessário, e que nesse período, seus discípulos jejuariam. Mas não era esse o momento! Naquela hora eles deveriam se alegrar na companhia de Cristo e não se preocupar com as observâncias legalistas que os fariseus praticavam e impunham ao povo de Israel.
Nos versos 16 e 17, Jesus se utiliza de parábolas para alertar os discípulos de João Batista que estavam questionando os discípulos de Jesus. A primeira, fala a respeito do remendo de pano novo em veste velha. "Se se põe um remendo de lã, não-encolhido, numa roupa que já viu melhores dias, o resultado será que, quando essa peça não-encolhida se molha e encolhe, rasgará as bordas da costura. O remendo que deveria consertar a ruptura original, agora produz uma ruptura ainda maior" (William Hendriksen).
A segunda comparação que Jesus faz se refere ao vinho novo posto em odres velhos. Os odres, a que Cristo se refere, eram vasilhames de pele (geralmente de cabra ou de ovelha). O animal era morto, seus membros e sua cabeça eram arrancados e seus pêlos também. A pele era virada de dentro para fora e cuidadosamente limpada a fim de evitar um sabor indesejável. A pele era toda costurada de forma que apenas um orifício sobrava (geralmente o do pescoço) que servira como gargalo do odre. Com o tempo, a pele endurecia, e se um vinho novo, que ainda estivesse fermentando, fosse posto dentro desse odre velho, o acúmulo de gases fermentando arrebentariam o odre e o vinho escoaria dele. Vinhos novos eram postos apenas em odres novos, ainda flexíveis, que pudessem suportar a fermentação da bebida.
Mas o que Jesus queria dizer com essas imagens utilizadas? Essas comparações mostram que as novas do evangelho trazidas por Cristo, não poderiam ser remendadas ao "velho" judaísmo, à salvação por obras e à lei legalista que os fariseus pregavam. O evangelho que Cristo trazia não poderia ser despejado no odre velho do judaísmo. É fato que Jesus não estava rompendo com os ensinamentos dos patriarcas e dos profetas, mas como foi dito no sermão do monte, Cristo estava trazendo a interpretação correta da Lei e dos profetas! "A novidade que Jesus traz não pode ser reduzida às tradições da piedade judaica nem contida nelas". Os ensinamentos que o nosso Senhor trazia, embora em conformidade com os ensinamentos da Lei e dos profetas, causavam escândalo aos próprios judeus, e anos depois dividiria o povo judeu entre aqueles que receberam o cumprimento das profecias, Jesus, e aqueles que aceitariam os ensinamentos dos fariseus.
Cristo trazia a graça e a benevolência divina, mas muitos judeus preferiram "permanecer debaixo da Lei" a receber o Messias como oferta por seus pecados.
Lucas Quaresma
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