Após admoestar duramente seus recém-escolhidos discípulos sobre o temor a homens e a necessidade que eles tinham de confessar a Cristo, como vimos no texto anterior, Jesus passa agora a uma advertência ainda mais severa: as divisões que o Evangelho traria para aqueles que vivessem por meio dele!
Jesus, dentre muitos nomes, era conhecido como o "Príncipe da Paz"(Isaías 9.6), aquele que traria "paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino"(verso 7), mas ele fez questão de deixar claro que o Príncipe da Paz traria também a espada! como William Hendriksen comenta:"Essa palavra (espada) é aqui usada para simbolizar o próprio oposto de paz; daí, 'divisão' ". Divisão não apenas entre um crente e seus conhecidos distantes, porém uma divisão tão profunda que afetaria os laços de sangue de um convertido.
Quando o Espírito Santo nos converte, somos paulatinamente transformados e moldados à imagem de nosso Criador, àquele a quem queremos agradar e glorificar, passamos a querer ser santos como Ele é (Levíticos 11.45), e começamos nos despojar do velho homem tornando-nos cada vez mais justos e retos (Efésios 4.22-24). O evangelho nos muda por completo! Nossas atitudes, nossas palavras, nossos pensamentos e até nossa cosmovisão são totalmente transformados. Mas não se enganem: à medida em que somos transformados à imagem de Deus, nossa vida passa a denunciar e acusar a consciência dos ímpios a nossa volta! Quanto mais santos nos tornarmos, mais o mundo nos odiará, pois nossa luz resplandecerá sobre o mundo e suas consciências serão atacadas constantemente por nossas atitudes, palavras e pensamentos. Aquele que ama a Deus odeia o mundo e suas práticas, porque o mundo jaz no maligno, e "assim, os inimigos do homem serão os de sua própria casa".
Nossos familiares descrentes não hesitarão em nos perseguir por causa do evangelho, e é por isso que Jesus prepara seus discípulos para serem separados de seus entes queridos! Muitas vezes seremos afrontados e humilhados até mesmo pelos de nossa casa, mas nós não devemos nos envergonhar do evangelho, pois ele é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Romanos 1.16), e é como um tesouro escondido, pelo qual um homem achando-o o esconde, vende tudo o que tem, e transbordante de alegria, vende todas as suas posses para comprar o campo em que o tesouro foi escondido (Mateus 13.44). O evangelho deve ser a nossa maior alegria e devemos amar ao Deus desse evangelho acima de todas as coisas!
Os versos 37 e 38 nos mostram bem isso: "quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim". Ninguém deve ser mais importante para nós do que o nosso Salvador, e o final do verso 38 é ainda mais duro: "e quem não carrega a sua cruz e vem após mim não é digno de mim", ou seja, se você ama a Deus mais do que a qualquer outra pessoa, porém ama mais a si mesmo do que a Deus, certamente você não é digno dEle! Carregar nossa cruz significa negar a nós mesmos, negar nossas vontades e desejos pecaminosos e fazer a vontade de nosso Pai. Se não estamos dispostos a nos desfazer de nossa vontade e fazermos apenas aquilo que Deus requer de nós, não somos dignos de seu amor!
Nada nesse mundo deve nos prender aqui, e o próprio Cristo mostrou esse desprendimento do mundo e dos de sua casa quando disse que sua mãe e seus irmãos são aqueles que fazem a vontade de nosso Pai celeste (Mateus 12.46-50). Não é à toa que somos irmãos em Cristo! Nossa família já não é mais aquela na qual nós nascemos e da qual carregamos o sobrenome, mas aquela que Cristo resgatou.
Esse trecho termina com outra advertência importante: os que prezam por suas vidas mais do que por Cristo, perdê-la-ão! É disso que se trata nossa vida a partir do momento em que somos transformados pelo sangue de Cristo: negar a nós mesmos, e confessar a Deus, se preciso sacrificando nossos laços familiares, nossos bens e até mesmo nossa vida! Tudo isso por um Deus que nos amou antes da fundação do mundo e nos escolheu para sermos seus servos e habitarmos com Ele por toda a eternidade. O preço a se pagar nesse mundo pode parecer alto, mas nunca será desanimador para aqueles que verdadeiramente amam o Deus vivo!
Lucas Quaresma
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